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Foto do escritorDavi Simões

Trump e a Ciência: Por que o Conservadorismo não é uma solução para o Brasil

A Administração Trump ordenou que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA retire de seu site menções ao aquecimento global. Mais uma das já inacreditavelmente inúmeras medidas de Trump contra a comunidade científica e que vão contra todo o conhecimento científico acumulado (considerando há quantos dias ele foi empossado).

Espero que todos estejam anotando para as nossas próximas eleições a lição simples: o conservadorismo (considerando os políticos conservadores atuantes na política) é anti-científico.

Não é direita, não é esquerda: antes de continuar lendo este texto, SAIAM dessa dicotomia que os publicitários eleitorais conseguiram inflamar na população brasileira. Parem de limitar o diálogo político à mera distribuição de rótulos. Se eu falo que 1+1=2, me colocar à esquerda ou direita não toca minha afirmação e nem torna minhas premissas e conclusões incorretas; apenas mostra que você é incapaz de fechar um pouco seu manual ideológico e ouvir novas ideias de forma independente.

O conservadorismo possui problemas em sua raiz em relação ao conhecimento científico, à igualdade de gênero, às causas sociais, à separação entre Igreja e Estado e outras, e é por isso que falo abertamente de seus problemas e jamais penso duas vezes para criticá-lo ou fazer piadinha com ele. Meu problema não é com mero o rótulo “conservador”, como se fosse um inimigo invisível. Meu problema com o conservadorismo é com as políticas intrinsecamente antiquadas que essa linha ideológica traz e trouxe ao longo da história mundial – e no Brasil vemos frequentemente os problemas e absurdos trazidos pela bancada conservadora (e evangélica, que são praticamente sinônimos).

No Brasil criou-se a cultura teimosa e irritante de associar conservadorismo a qualquer visão política à direita e rotular qualquer mentalidade de preocupação social ou científica com a extrema esquerda (talvez não apenas no Brasil, mas vou me limitar a afirmar o que conheço).

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A partir daí, em qualquer discussão política ou social, a primeira coisa que o interlocutor faz é definir que rótulo colocar no outro, para dar um abraço se for o mesmo que o seu ou para vomitar suas verdades prontas se for “o inimigo”. Não há a tentativa de olhar para os problemas apontados, compreender a realidade e discutir soluções; apenas o reforço e conformidade constante e repetitivo das verdades ideológicas prontas que já se carrega, que sequer considera qual o ponto trazido à discussão. É como começar uma queda de braço com uma pessoa que levantou a mão próxima de nós, ignorando que ela estava na verdade apontando pra um trem vindo em nossa direção.

Essa tem sido uma grande vitória do conservadorismo no Brasil: apagar a ideia de que existe um amplo e complexo espectro político para além de extrema esquerda e extrema direita, e convencer as pessoas de que toda a direita e o conservadorismo são uma coisa só; que Bolsonaro, Feliciano e seus colegas são políticos “liberais”, que a forma de combater o grande vilão – A Esquerda – é votar em candidatos conservadores. Quer um exemplo? A imagem abaixo é um print do site dele:

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A cada dia esse raciocínio incorreto parece estar mais enraizado na mentalidade de mais e mais brasileiros, vinculando qualquer ideia progressista à extrema esquerda e qualquer política liberal ao conservadorismo, e assim fornecendo à população a certeza de que só existem esses dois grandes blocos e qualquer diálogo ou decisão deve ser embasado nessa falsa dicotomia. Se declarar contra a esquerda já é suficiente pra ganhar a simpatia de uma quantidade grande de brasileiros (pra não dizer a maioria), não importa sua carreira política, quem financia sua campanha ou suas reais prioridades ideológicas.

Basta ver que o último congresso eleito foi o mais conservador desde 1964, e agora Bolsonaro é um candidato muito provável à presidência em 2018. Há alguns anos, um candidato que apresentasse qualquer insinuação racista ou violenta, em qualquer situação ou contexto, ficaria comprometido politicamente; hoje ele é aplaudido e a própria população se encarrega de defender dizendo que foi mal compreendido, que está fora de contexto, que a mídia está tentando sabotá-lo e quaisquer outras desculpas que você já deve ter visto por aí, seja com Trump, Bolsonaro ou outros semelhantes. Tudo porque ele é um “inimigo da esquerda”.

Então é bom que fique claro: meu aviso é que um presidente conservador irá ativamente atuar contra a comunidade científica e o progresso da ciência e da educação, contra relatórios científicos que alertam para problemas ambientais como poluição e aquecimento global (que são fatos científicos, não discussões de opinião), contra movimentos sociais, contra estrangeiros, contra marginalizados pela sociedade (prostitutas, moradores de rua, presidiários, moradores de favela e periferias, etc.), adotará políticas nacionalistas (isso não é um elogio, pesquise quando vimos essas políticas antes) e outras medidas semelhantes. Acha que é especulação? Acompanhe a política atual de Donald Trump, que é real e concreta diante de nossos olhos (e assombros).

Estamos começando a ver, com Trump, o poder real de um presidente conservador, que muitos sofistas malabaristas defendiam que não ia fazer nada, que era só propaganda, que o Congresso não permitiria ou qualquer coisa do tipo. Os EUA elegeram uma figura neofascista (por definição, não no sentido de xingamento gratuito que vemos comumente) e agora começamos a ver o que isso significará para o nosso futuro (ainda vem muita coisa por aí, e você que acha que isso não é um problema seu também será afetado, a menos que seu oxigênio e o clima de sua cidade venham do Reino Mágico de Oz ou que seus filhos pretendam morar em outro planeta no futuro).

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Um presidente não é um líder absoluto, mas ele tem forte poder executivo e principalmente político e de lobby (influenciar empresas, deputados, senadores e etc.). Um presidente não precisa ter em mãos a caneta que vai mudar uma legislação, basta ele ter fichas políticas e econômicas suficientes pra trocar e influenciar quem tem.

Tenham isso em mente na hora de avaliar seus candidatos aqui no Brasil e, principalmente, antes de achar que Bolsonaro e seus ̶c̶o̶m̶p̶a̶r̶s̶a̶s̶ aliados são uma boa ideia, por qualquer razão que você pense. O conservadorismo não é a “alternativa à esquerda”, e o que não faltam são líderes que residem em diversos pontos muito mais saudáveis ao longo do amplo espectro que existe entre a extrema esquerda e a extrema direita. Além disso, políticas sociais e preocupação científica não são exclusividade de um lado ou do outro, mas são adversários claros para o conservadorismo.

O conservadorismo não é o opositor da esquerda, e sim o opositor de uma sociedade que busque ser mais igualitária, justa e que leve em conta o conhecimento científico em suas leis e decisões. Espero que os brasileiros aprendam isso a tempo.

 

vídeo relacionado, que postei no meu segundo canal:


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