Hoje me avisaram que esse meu tuíte (que pra minha surpresa completa tinha viralizado no Twitter) viralizou também no Facebook, compartilhado pela página Quebrando o Tabu.
Imagem de um copinho de iogurte Yoplait, edição especial das olimpíadas de 1976, encontrado em uma praia, quase completamente conservado. O tuíte diz “jogado no oceano por alguém que pensou ‘é só um copinho’. Zero decomposição até então.”
Muita gente questionou se a tinta duraria tanto, se não seria só sujeira num copo conservado e outras. Eu acrescentaria aqui hipóteses minhas: pode ser que o copinho estava num aterro e foi levado pro mar numa chuva mais forte, ou que alguém quis fazer uma imagem legal, resolveu pegar um copinho que estava guardado desde 1976 em casa, levou pra praia e tirou a foto (embora um colecionador jamais faria isso com um item, e dificilmente alguém previu em 1976 que esse copinho serviria pra gerar trend na internet em 2016), ou ainda que a foto foi tirada em 1976 e editada pra parecer mais moderna. Ou ainda: pode ser que esse copinho nem seja de plástico e foi parar na praia no mesmo dia da foto.
O caminho do copinho desta foto até a praia não é uma informação científica verificável. Eu vi essa foto no Reddit, tentei rastrear fontes, mas só o que é possível encontrar é o relato de quem tirou a foto. Ainda assim, valia a pena compartilhar pela reflexão, porque o ponto da imagem não era esse – embora, pela diferença entre os métodos de fabricação da época e de hoje, é completamente possível que de fato tenha sido jogado no mar em 1976, já que tanto plástico quanto tinta tem um período de decomposição gigantesco e a preocupação em fabricar produtos de forma que sejam biodegradáveis é bastante recente.
O fato relevante na imagem é a durabilidade do plástico, que tratamos como descartável, mas é na verdade um material durável. O plástico, assim como outros materiais que despejamos constantemente em rios, no oceano, na atmosfera, é um risco a outras espécies e também à nossa. E isso independe de como esse copinho específico chegou na praia.
A frase sobre alguém jogando no oceano há 40 anos é meramente ilustrativa sobre nossos hábitos simplistas e irresponsáveis diante do ambiente em que vivemos. Era só um tuíte espertinho (palmas pra mim), não uma afirmação histórica.
Nós temos a capacidade de modificar voluntariamente a natureza como nenhuma outra espécie e, ainda assim, vivemos em uma época recheada de negacionistas de todo tipo, que afirmam que a sociedade não deve se preocupar com isso. Temos líderes mundiais negando o aquecimento global (vide presidente Donald Trump, que muitos ainda acham que o único defeito é ser um velho desbocado), políticos e líderes brasileiros ignoram diariamente relatórios ambientais de cientistas a respeito de práticas danosas ao ambiente (a própria crise hídrica no sudeste havia sido anunciada há anos, bem antes de ser um evento cotidiano), e não importa o assunto ambiental que pensemos sobre o qual hajam centenas de estudos científicos bem embasados, sempre haverá grupos (quase sempre conservadores) negando os fatos e atuando politicamente de forma a ignorar a responsabilidade humana diante da natureza e, principalmente, diante dos problemas futuros concretos que recairão sobre todas as sociedades como consequência de nossas práticas atuais.
E, obviamente, temos a mentalidade fraca e ingênua de que isso só importa nas esferas de poder, que nossos atos no cotidiano não contribuem para nenhum destes problemas, que não há nada que possamos ou devamos fazer para tentar reverter estes quadros.
Pra nós, é sempre só mais um copinho.
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