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Foto do escritorDavi Simões

Carta aberta a Marcos Pontes

Marcos Pontes, nada apaga sua qualificação e história. Eu ainda era adolescente quando me empolguei ao ver na TV o primeiro astronauta brasileiro, e poucas coisas poderiam apagar meu sentimento de admiração por sua figura desde aquela época.

Mas se aliar a um candidato que não só é conhecido por sua postura intolerante e ultranacionalista, mas que também foi um dos maiores responsáveis pela catástrofe da fosfoetanolamina no Brasil, é incontestavelmente uma péssima escolha.

Embora a cada dia esta esperança se esvaia mais, ainda espero do fundo do coração que o Bolsonaro não ganhe as eleições, tanto por sua postura pública quanto por sua extrema incompetência ao longo de sua carreira política.

Ele é também a última pessoa do universo que eu gostaria de ver como um representante do Brasil perante o mundo. Já é conhecido mundo afora como uma figura fascista da política brasileira, e infelizmente tem conseguido adeptos brasileiros que não conhecem a fundo seu histórico e a semelhança entre suas ideias e os ideais fascistas.

Se ele vencer, seria um consolo que você fosse parte da equipe. Porém, considerando o histórico deste, eu duvido muito que essa escolha seja mais do que apenas uma forma populista de conseguir mais votos, vestindo de “Ciência” um candidato que sempre se mostrou anticientífico.

Com todo o respeito, considero irresponsável e vergonhoso que você sequer tenha se mostrado publicamente disposto a ser parte da campanha deste sujeito. Você aceitou se tornar uma arma política na mão de um sujeito que nunca moveu sequer uma poeira a favor da ciência ou educação – pelo contrário, através de seus poucos projetos trabalhou ativamente por ideais teocráticos e anticientíficos. Além de ser um dos que apoiou a PEC 241, que congelou fundos para a educação e ciência, de ter feito forte lobby a favor da venda da fosfoetanolamina, de ter afirmado que vai trabalhar para retirar o Brasil do acordo de Paris (uma das mais importantes colaborações ambientais mundiais); além de tudo isso, não preciso lembrar também que a separação entre Igreja e Estado é um ideal científico, e esta separação inclui não permitir que qualquer religião possa impor seus valores sobre aqueles que não a praticam.

Não só isso, mas é também um candidato que ativamente trabalha pela intolerância em nosso país e tem como financiadores de campanha alguns dos maiores combatentes de políticas ambientais e igualitárias.

Não há sentido algum em qualquer conexão política entre um representante da ciência e este sujeito, e qualquer tentativa de conectar sua imagem a este candidato é claramente uma manobra de campanha.

Continuo admirando seu histórico, e lamentando que seu símbolo esteja agora vinculado a este candidato. Tenho a certeza que falo também em nome de uma parte considerável dos cientistas e divulgadores científicos do Brasil.

Dito isso, seria ótimo que houvesse a possibilidade de que, em vista dos fatos, você reconsiderasse sua posição.

O futuro da ciência brasileira agradeceria.

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